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Doutor, preciso de ajuda: como alcanço a liberdade financeira? - 18 Janeiro 2010

Por: Alexandre Soares

Gabinete de Apoio ao Sobreendividado, da Deco, teve em 2009 um aumento de 38% no número de processos


"Os meninos estudaram no colégio", o marido era "um homem muito bem sucedido" e ela atingiu "o topo da carreira na função pública". Ao longo de 30 anos, Maria Augusta Costa, 66 anos, cumpriu um percurso financeiro imaculado com o companheiro e os filhos. Depois veio a reforma antecipada e o divórcio. O primeiro crédito foi para umas obras na casa, o segundo para os dentes e "os outros foram acontecendo". No final, os novos créditos apenas serviam para pagar os antigos. Há duas semanas, entrou sozinha no Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da Deco e pediu ajuda. Como 12 mil pessoas fizeram em 2009.

Durante o último ano, a história de Maria Augusta desfilou em frente a Natália Nunes, responsável pelo gabinete da Deco, com outros nomes e outras caras. "Temos cada vez mais casos de pessoas entre os 55 e os 65 anos com reformas antecipadas e que, por já terem alguma idade, não conseguem alargar os prazos dos empréstimos."
Não é esta a ideia feita de uma família sobreendividada, mas a maior parte das pessoas que entra no gabinete de Natália Nunes também não encaixa em ideias preconcebidas. "São agregados com três pessoas, entre os 35 e 45 anos e rendimentos superiores a 1500 euros; têm entre cinco e dez créditos e 90% chega já em situação de incumprimento", explica a especialista.

Nos últimos dois anos, o crédito malparado cresceu a um ritmo acelerado e, em Outubro, atingiu os 3,7 mil milhões de euros nos empréstimos a particulares - um aumento de 22%. O sinal mais preocupante é o aumento do peso dos créditos pessoais. À Deco chegam pessoas com empréstimos pessoais superiores a 100 mil euros, que representam 80 a 90% do total dos créditos. Outro caso que se tornou comum foi o de "empresários com passivos de um, dois, três milhões de euros após a falência da empresa", informa António Godinho, administrador da Onebiz, grupo que detém a consultora financeira Turn&Win.

Embora pouco reconhecida em Portugal, a consultoria financeira teve um rápido crescimento desde 2003. Paula Machado, da Flexi Solutions, diz que o "maior reflexo da crise na actividade é a solicitação de serviços de consolidação de crédito", mas que os clientes chegam "quando a situação já é muito grave". Na Turn&Win há "perto de uma dezena de casos diários", o dobro dos que havia em 2008. Estes consultores habituaram-se a ouvir histórias de homens que se levantam todos os dias de manhã, vestem a roupa de trabalho e voltam a casa apenas no final do dia, sem a família imaginar que perderam o trabalho há vários meses e que são os cartões de crédito que lhes pagam as contas.

Quando a vergonha de pedir ajuda ainda não provocou uma situação de incumprimento, o primeiro passo é somar todas as prestações e todos os rendimentos, um exercício que a maioria não faz, e elaborar um novo plano de pagamentos com as instituições de crédito. É aqui que entram as consultoras.
António Godinho fala em "iliteracia financeira" e Natália Nunes explica que a banca "é um mercado complexo, que muitos consumidores não dominam" e, por isso, "é natural que quem não domina a linguagem tenha mais dificuldades na negociação". Segundo estes especialistas, 80% das vezes é possível renegociar. A vantagem de contratar o serviço de terceiros reside no facto de terem protocolos com a banca e dominarem todos os aspectos do negócio.

Paula Machado, da Flexi Solutions, lembra o caso da família Alves, com rendimentos superiores a 1800 euros e prestações no total de 2260 euros. A consultora propôs uma solução que garantia uma poupança mensal de 690 euros e a família mudou. Depois de negociar, se as condições forem melhores noutro sítio, esta deve ser a opção. Alargar o prazo do empréstimo também é possível, mas é preciso atenção: embora a prestação fique mais baixa, no final do contrato terá pago mais pelo empréstimo. 

Quando não é possível renegociar os créditos, é aconselhado o pedido de insolvência, uma espécie de falência pessoal em que o tribunal decreta uma quantia de sobrevivência ao agregado e todos os outros rendimentos abatem a dívida.
O caminho para a liberdade financeira não termina, ainda assim, depois de enfrentar os créditos. É preciso evitar que a situação se repita. Apesar dos valores recorde de endividamento, os levantamentos de dinheiro no multibanco bateram novos recordes este Natal. Os especialistas distinguem um sinal de que o "fantasma da crise" e "o drama do desemprego" não levou à mudança dos hábitos de consumo.

Fonte: Jornal i